terça-feira, 9 de julho de 2013

Protestos no Brasil e no Mundo: especialista da Kings College aborda a questão

Movimentos Sociais| 26/06/2013 | Copyleft 

Limites e contradições dos movimentos que estão nas ruas

Em entrevista à Carta Maior, Paolo Gerbaudo, pesquisador do Kings College e especialista em movimentos sociais, fala sobre as semelhanças e diferenças entre os protestos de rua que sacudiram países como Egito, Turquia, Espanha e Brasil. Gerbaudo aponta a força desses movimentos, mas também indica seus limites. "Há uma contradição entre o que se defende como parte de um movimento autônomo que rechaça o Estado, mas que, ao mesmo tempo, depende do Estado para a satisfação de suas demandas. Os movimentos podem ter um efeito autodestrutivo. É o que ocorreu em certa medida no Egito", adverte. Por Marcelo Justo, de Londres.

Londres - Os protestos que sacudiram os sistemas políticos de nações tão díspares como Egito e Brasil nos últimos três anos não provem da estrutura política tradicional, mas sim da rua, de uma tradição movimentista. Na Europa da austeridade, no Brasil de Dilma Rousseff, na Primavera Árabe e na Turquia pró-islâmica de Recep Tayyip Erdogan estes movimentos – chamem-se indignados, Movimento Passe Livre ou Occupy – têm traços organizativos similares, uma mescla de espontaneidade, demandas específicas e escassas consignas programáticas. Em entrevista à Carta Maior, Paolo Gerbaudo, pesquisador do Kings College, especialista em novos movimentos sociais, analisou as expectativas e os limites destes movimentos políticos e seu significado no caso particular do Brasil.

Você vê alguma semelhança entre o que ocorreu no Brasil e na Turquia e os movimentos sociais europeus como os indignados ou o movimento occupy?

Paolo Gerbaudo: Esses movimentos são, ao mesmo tempo, similares e diferentes. A diferença diz respeito ao meio social no qual ocorrem. Os movimentos no Brasil e na Turquia expressam diferentes realidades daquelas da Espanha e dos Estados Unidos. Não se pode postular uma tendência unilinear. Mas há semelhanças que podem ser vistas na maneira pela qual os manifestantes expressam seu protesto, nos símbolos que usam. A máscara do V de Vingança, como símbolo de certo anarquismo antiautoritário, é um exemplo. Ela pode ser vista nos protestos de Dubai, do Egito e em muitos outros lugares. Na capa de um jornal turco apareceu uma foto muito interessante durante as manifestações do Brasil. Na metade da capa, aparecia um manifestante com a máscara do V e a bandeira do Brasil. Na outra metade, havia um manifestante na Turquia com a mesma máscara e a bandeira turca.

Isso mostra outro elemento importante. Ao contrário dos movimentos antiglobalização estes movimentos são nacionais como se vê pela presença das bandeiras. Nos movimentos antiglobalização, há um forte elemento contracultural e de presença de minorias. Um postulado básico era a diversidade de táticas e pertencimentos: anarquistas, feministas, ecologistas eram parte de um movimento que se baseava na ideia de resistência em um momento no qual a maioria sentia que o sistema estava oferecendo coisas suficientes para se manter em conformidade com ele. Não é a situação agora, quando há um forte rechaço do neoliberalismo. Se alguém pergunta a alguém o que pensa dos bancos ou do sistema econômico, a resposta intuitiva, sem usar uma linguagem técnica, é quase unânime de indignação sobre a disfuncionalidade do sistema.

Mas, se na Europa dos anos 60 ou 70 tivesse ocorrido uma austeridade como a que ocorre agora, a resposta teria sido muito mais forte, quase uma situação pré-revolucionária. Uma coisa que surpreende no que está acontecendo é que tenha levado tanto tempo para ocorrer uma resposta. O que é que está faltando?

Paolo Gerbaudo: Estes movimentos não começam com uma identidade centrada em uma ideologia. São lugares de convergência que compartilham a sensação de ser vítima do sistema. Não é um movimento de minorias. Estive na Espanha e uma coisa que me impressionou muito foi que nas assembleias aparecia um especialista em computação dizendo “eu também estou indignado” e, ao seu lado, havia uma aposentada que tinha sofria uma forte redução em sua aposentadoria e que dizia o mesmo, ou seja, que ela também estava indignada. Este “também” é fundamental. Esses movimentos ainda estão lutando para ter uma visão coerente, que não se resuma à oposição de modo geral a tudo que está aí. As Assembleias Populares são uma tentativa de construir esta visão. Em um certo sentido são um passo fundamental, mas é preciso não se iludir, não é o caso de idolatrá-las. As assembleias não são uma solução, nem produzirão resultados. Na Assembleia, reúne-se gente que compartilha as mesmas demandas, mas que têm identidades políticas distintas. Os indignados estão se dividindo agora entre os que têm um perfil liberal-conservador, onde há até um membro da Opus Dei, e os que são autonomistas.

Na Argentina, hoje, pode-se ver um ciclo completo das Assembleias. No início da crise, em 2001-2002, foram muito importantes, mas depois, à medida que a economia se recuperou, foram se diluindo. Hoje são politicamente irrelevantes. Esse não é um problema de todos estes movimentos que dependem totalmente de uma crise?

Paolo Gerbaudo: Totalmente. As Assembleias são uma espécie de sonho anarquista de que é possível funcionar com um sistema de assembleias. Isso se viu na Argentina, na Grécia e na Espanha. Há um extraordinário entusiasmo quando o movimento começa com a ideia de que vão substituir os governos, mas isso não ocorre, em parte porque as assembleias requerem um gasto de energia extraordinariamente grande. Atribuem a Oscar Wilde uma frase que reflete isso: “o socialismo requer demasiadas reuniões nas noites de quarta”. As pessoas se encantam com as reuniões, mas elas acabam se tornando cansativas. As Assembleias são um meio, parte das ferramentas disponíveis para uma mudança. O perigo é acreditarmos que os meios são o importante. É o que diz um dos ideólogos do movimento Occupy Wall Street, David Graeber, o “importante são os meios corretos”. Isso é como dizer: não importa a ideologia, a visão de mundo, importa a democracia.

No entanto, há sinais de ideologia em todos estes movimentos. Em uma carta do movimento passe livre a Dilma Rousseff é dito que “o transporte deve ser público de verdade, acessível a todos, ou seja, um direito universal. Questionar a tarifa é questionar a própria lógica da política tarifária que submete o transporte ao lucro dos empresários e não à necessidade da população”. Essa carta também sustenta que este critério deveria ser aplicado não só ao transporte, mas sim à saúde, à educação, etc. Isso parece uma semente de ideologia.

Paolo Gerbaudo: Exatamente. Mas tem uma limitação. Não apontam um caminho. Por que? Porque recusam que o Estado é o caminho para a resolução do problema. A quem estamos fazendo esta demanda? Ao Estado. No caso do Brasil, isso é claro. Há uma contradição entre o que se defende como parte de um movimento autônomo que rechaça o Estado, mas que, ao mesmo tempo, depende do Estado para a satisfação de suas demandas. Mas, sim, há uma semente de uma ideologia baseada nos direitos sociais, baseada em visões de gente do povo, uma ideologia que põe a ênfase no direito ao espaço cidadão. É uma série de demandas que refletem a estrutura social no movimento, a precária classe média que quer hospitais, espaços públicos, parques, educação, transporte.

No Brasil os cincos pactos propostos por Dilma a governadores e prefeitos se centram nesses pontos: saúde, educação, transporte, reforma fiscal e reforma política. Você acredita que isso pode colocar um fim à crise?

Paolo Gerbaudo: Não sei. Esses movimentos estão criticando o sistema de partidos políticos. Não sei se a cooptação seletiva será suficiente para desarmar estes movimentos. Pode ser. Estas concessões podem pacificar certos setores do movimento. Mas ao mesmo tempo é provável que criem novos partidos que tentem integrar estes elementos.

No Brasil há um paradoxo. Os protestos ocorrem com um governo popular que aumentou as políticas sociais em um país com pleno emprego. Não se dá a crise europeia da austeridade.

Paolo Gerbaudo: Há uma maneira de entender esses protestos que é pensar que se alimentam da privação. Neste caso a lógica seria quanto mais fome mais protestos. Mas pode ocorrer também a lógica inversa. Quanto mais direitos alguém consegue, mais quer. No Brasil, a situação hoje é muito melhor. Mas como diz Rodrigo Nunes, em um artigo na Al Jazeera, há que diferenciar entre crescimento quantitativo e qualitativo. Ganha-se mais, mas os serviços são piores. Não estive no Brasil, mas muita gente me falou que a infraestrutura de transporte e o sistema de saúde são terríveis. Tudo isso afeta a qualidade de vida em um momento no qual o país parecia ir muito bem. Isso ocorre também na Turquia. Pode haver muito desenvolvimento, mas a resposta da população é que não se trata simplesmente de aumentar um critério abstrato de medição como é o PIB, mas sim de viver melhor.

Nestes episódios a reação dos governos e da polícia parece cumprir um papel disparador e aglutinador. Isso é uma parte essencial na aparição de movimentos como estes que, da noite para o dia, passam a dominar toda a agenda política?

Paolo Gerbaudo: Em princípio o que os une é o Estado. No Egito, o que uniu todo o mundo foi a polícia. Todo mundo odeia a polícia. A reação da polícia representa que só há a vara: não há a cenoura. E o Estado está representado na polícia. Não é a polícia usada para manter uma ordem social justa, mas sim a polícia que serve para a injustiça social, um imã que unifica todo mundo.

Uma coisa que estes movimentos trazem à superfície é o problema da representação política. Estes movimentos sociais são uma crítica implícita ou explícita aos partidos políticos tradicionais.

Paolo Gerbaudo: Os partidos sempre existiram. Nos tempos de Roma existia o partido popular e o dos patrícios. Nos anos 50, mesmo em um país tão apolítico como o Reino Unido, o Partido Conservador e o Trabalhista tinham milhões de membros. Mas o partido de massas desapareceu hoje e com ele a forma de participação política massiva que tinha. Esta falta de formas de participação massiva é a raiz do movimento atual. Neste sentido hoje me inclino pela tese de Gramsci, a convivência de movimentos e partidos. Os movimentos podem ter um efeito autodestrutivo. É o que ocorreu em certa medida no Egito, onde os movimentos rejeitaram toda organização e estrutura e o resultado foi que abriram a porta para a Irmandade Muçulmana que hoje governa o país com resultados desastrosos.

Quanto ao modelo do partido leninista, creio que o desafio é como nos movermos para novas formas de representatividade política que consigam ir mais além do centralismo democrático. Não é simplesmente uma discussão intelectual. Isso pode ser visto claramente no movimento na Itália onde se coloca a criação de novas formas de participação democrática por meio da internet. Tudo isso é bastante problemático porque o movimento tem o terrível paradoxo entre ser participativo e ter um líder paternalista como Beppe Grillo que decide quem está no movimento. É algo que o Partido do Futuro, nascido do movimento dos indignados, está tentando resolver: como vamos usar a internet e a mídia para reconstruir formas de participação que não são possíveis hoje com os partidos.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer


Fotos: José Cruz/Agência Brasil 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

CENTO GLOBAL DE PESQUISA SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL NASCE NO RJ, LIGADO A ONU,

24/06/2013 14h09 - Atualizado em 24/06/2013 14h51

Rio ganha centro global de pesquisa sobre desenvolvimento sustentável

Centro Rio+ vai investigar como estabelecer uma economia verde mundial.
Instituição ligada à ONU terá sede na Coppe/UFRJ, na Ilha do Fundão.

Alba Valéria MendonçaDo G1 Rio
Comente agora
A ministra Izabella Teixeira e o coordenador do Centro Rio+ Rômulo Paes (Foto: Alba Valéria Mendonça/ G1)A ministra Izabella Teixeira e o coordenador do
Centro Rio+ Rômulo Paes (Foto: Alba Valéria
Mendonça/ G1)
Um ano após a Rio+20, o Rio de Janeiro ganhou nesta segunda-feira (24) o Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, que vai ser responsável por criar projetos voltados a estabelecer uma "economia verde" no mundo, ou seja, como desenvolver a economia, auxiliando também as questões ambiental e social.
Um seminário realizado na cidade, que contou com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, deu início aos trabalhos do "Centro Rio+". Ele vai servir de base para iniciativas sustentáveis e renováveis que vão contemplar todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento.

A sede do Centro Rio+, que vai funcionar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai receber cientistas, pesquisadores e acadêmicos do mundo para apresentar ideias que ajudem as populações a se desenvolver, sem perder o foco na preservação.
De acordo com a ministra, abre-se um canal internacional de discussão e trabalho. Segundo ela, a expectativa é de trabalhar este modelo inovador e integrar sociedades e governos na busca de soluções que visam o bem-estar das pessoas e do planeta.
"A riqueza deste centro está em buscar a diversidade de pensamentos, construir uma convergência de ideias e projetos, e influenciar todos aqueles que tomam decisões em torno do bem-estar da população. Esta é uma grande oportunidade de integração mundial", disse a ministra.
Ela ressaltou também que os quatro primeiros temas que serão discutidos são as questões do clima, a erradicação da pobreza, a concepção de cidades e o desenvolvimento sustentável, sempre de olho nas agendas sociais e econômicas.
De acordo com o coordenador do Centro Rio+, o brasileiro Rômulo Paes,  o grupo já conta com 30 integrantes, que terão como objetivo produzir e promover conhecimento para as boas práticas públicas e privadas para a sustentabilidade dos países.
O Centro Rio+ teve um financiamento de US$ 4,5 milhões oriundos da Conferência Rio+20. O Rio foi escolhido entre várias cidadas estrangeiras pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que também fez a seleção e a contratação do pessoal. A nova instituição conta ainda com o apoio de 25 parceiros, como o BNDES e a Fundação Getúlio Vargas.
Metas sustentáveis
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável aconteceu de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro, e reuniu mais de cem chefes de Estado no Riocentro, onde debateram como o mundo pode se desenvolver sem impactar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, reduzindo a pobreza.
Os ODSs entram em vigor em 2015, no lugar dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMs), que expiram nesta data
Esperados como um dos principais trunfos da Rio+20, o que não aconteceu, os ODS seriam metas perseguidas pelos países para avançar ambiental, política e socialmente, reduzindo a disparidade entre nações ricas e pobres.
O documento “O futuro que queremos”, gerado na conferência, determinou a abertura do processo de discussão para criar essas metas. O primeiro rascunho dos objetivos terá que ser apresentado até setembro de 2013. Os ODS devem ser definidos para entrarem em vigor em 2015, quando terminam os prazos dos Objetivos do Milênio.
Um grupo de especialistas de várias partes do mundo, coordenado pelo economista norte-americano Jeffrey Sachs, lançou em maio o primeiro rascunho com os dez Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) que as sociedades civil e científica acham necessários para nortear a criação de políticas ambientais, sociais e econômicas a partir de 2015.
O relatório apresentado classificou diversos temas como prioritários, alguns não tão novos – mas que ainda precisam de políticas para resolver problemas relacionados a eles --, como o combate à pobreza e à fome, igualdade entre homens e mulheres ou a proteção à criança e ao jovem.
Porém, desta vez, questões ambientais foram classificadas como assuntos importantes, como o uso sustentável da água e da energia, redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa -- com metas de corte previstos para os anos de 2020, 2030 e 2050 --, além de reforçar a proteção das florestas por meio da valoração dos serviços ambientais (veja as metas criadas aqui).
Outras metas previstas na conferência
O documento produzido na Rio+20 prevê a criação de um fórum político de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro das Nações Unidas, além de reafirmar um dos Princípios do Rio, criado em 1992, sobre as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”.

Este princípio significa que os países ricos devem investir mais no desenvolvimento sustentável por terem degradado mais o meio ambiente durante séculos.
Outra medida aprovada é o fortalecimento do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma) e o estabelecimento de um mecanismo jurídico dentro da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos, na sigla em inglês) que estabelece regras para conservação e uso sustentável dos oceanos.
Pobreza
O texto estabelece a erradicação da pobreza como o maior desafio global do planeta e recomenda que “o Sistema da ONU, em cooperação com doadores relevantes e organizações internacionais”, facilite a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento.
Esse sistema atuaria para facilitar o encontro entre países interessados e potenciais parceiros, ceder ferramentas para a aplicação de políticas de desenvolvimento sustentável, fornecer bons exemplos de políticas nessas áreas e informar sobre metodologias para avaliar essas políticas.
  •  
Líderes posam para foto oficial da Rio+20 (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)Líderes posam para foto oficial da Rio+20 (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
tópi

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Manifestações contra Puxadinho da UFSC em Blumenau


No dia 03 de abril, no campus I da FURB, ocorreu o movimento Puxadinho é pouco, queremos FURB federal!, onde o corpo docente e discente se manifestou contra a instalação do campus da UFSC na cidade de Blumenau.
Hoje, ocorrerá o movimento Não entregamos a toalha! Todos pela FURB Federal. A manifestação será em frente ao Teatro Carlos Gomes, às 19h30min.